domingo, 27 de janeiro de 2013

UMMA MUÇULMANA
fonte: http://telesmundo-brasil.blogspot.com.br/

Talvez só os fundamentalistas do Islã mais extremados rejeitem a modernização e a ocidentalização. Eles atiravam aparelhos de televisão nos rios, proibiam o uso de relógio de pulso e até rejeitavam o motor de combustão interna. Com isso, entre as décadas de 1980 e de 1990, os islâmicos seguiram uma direção anti-ocidental, o que foi uma consequência natural da reação contra a gharbzadegi [ocidentoxição] percebida por eles, o que significou o repúdio da influência européia e norte americana sobre a sociedade, a política e a moral locais. Até porque o Islã também tem sido questionado, entre diversos países, por sua provável fonte de proliferação nuclear e por suas práticas terroristas e, pelos europeus, por serem imigrantes indesejados.

O ‘ressurgimento islâmico’ aplicou esforços para restituir uma legislação não ocidental. No Egito, no início da década de 1990, as organizações islâmicas desenvolveram uma extensa rede de entidades que prestavam serviços, assistenciais, educacionais, assim por diante, preenchendo o vazio deixado pelo governo para o grande número de pobres egípcios. Na Margem Ocidental e na Faixa de Gaza, as organizações islâmicas operavam ‘sindicatos’ de estudantes, organizações de jovens, associações religiosas, sociais e educativas [estabelecimentos de ensino que vão do jardim da infância até a universidade], inclusive clínicas, orfanatos, asilos, instituições jurídicas. As organizações islâmicas também se espalharam por toda a Indonésia, nas décadas de 1970 e 1980, a maior delas, a Muhhammadijah, contava com seis milhões de membros e prestava serviços do tipo ‘do berço ao sepultura’, conforme Samuel Huntington em seu livro “O Choque de Civilizações”. Na Ásia Central, historicamente, as identidades nacionais tendem a ser menos proeminentes que as lealdades às tribos, aos clãs e às famílias extensas, mas as pessoas possuem idiomas, religião, cultura e estilos de vida em comum, consequentemente o Islã torna-se a força unificadora mais coerente entre as pessoas.

Em todo o Islã, portanto, o grupo pequeno e a grande fé, a tribo e a ummah, formam os principais focos de lealdade. No mundo árabe, enfim, os Estados existentes possuem em geral problemas de legitimidade, porque parecem resultar do imperialismo europeu. Se o fundamentalismo islâmico parece rejeitar o Estado-nação em favor da unidade do Islã, como a ‘unidade muçulmana’ [ummah] pode compreender as ações dos Estados e das organizações internacionais? Em 1969, por exemplo, dirigentes da Arábia Saudita, Paquistão, Marrocos, Irã, Tunísia e Turquia organizaram a primeira reunião de cúpula islâmica em Rabat. 

Decerto a ummah não busca promover um Estado-nação, mas de que modo ela poderia estabelecer a unificação islâmica? Através das ações de um ou mais Estados-núcleos fortes? Deste modo, um Estado-núcleo islâmico precisaria possuir os recursos econômicos, o poderio militar, a capacidade organizacional, o engajamento islâmico para prover a liderança política e religiosa da ummah. 

De tempos em tempos, mencionam-se seis Estados como possíveis líderes do Islã: Indonésia, Egito, Irã, Paquistão, Arábia Saudita e Turquia. Os muçulmanos chegam a representar cerca de um quinto da população mundial, mas será que foram eles, mais do que qualquer outra civilização, quem se envolveram em violências intergrupais? Os muçulmanos alegam, pois que o Ocidente faz guerra contra o Islã, do mesmo modo que os ocidentais alegam constantemente que grupos islâmicos fazem guerra contra o Ocidente, então, parece razoável deduzir que algo muito parecido com uma guerra está realmente acontecendo.

Até a invasão do Iraque em 2003, essa ‘quase-guerra’ parecia do ponto de vista militar uma ‘guerra terrorista’ versus o ‘poder aéreo’. Enquanto os militantes fundamentalistas islâmicos migraram para alguns países ocidentalizados e colocavam carros-bombas em alvos precisos, os militares ocidentais se aproveitaram dos céus abertos do Islã e lançavam bombas sobre alvos selecionados. 

Ted Robert Gurr afirmou que os muçulmanos participaram de 26 dos 50 conflitos etnopolíticos que ocorreram no período de 1993-4, ou seja, pouquíssimo mais que a metade, resultado apresentado em seu artigo intitulado ‘People Against States: Ethnopolitical Conflicts and the Changing World System’. Dessa forma, intensos conflitos se espraiaram entre povos muçulmanos e não muçulmanos.

Na Bósnia, por exemplo, os muçulmanos travaram uma guerra sangrenta com os sérvios ortodoxos e se engajaram em outras ações violentas com os croatas católicos. Em Kosovo, os muçulmanos albaneses resistiram, sob a autoridade sérvia, e mantiveram seu próprio governo, mesmo que paralelo e clandestino. Em Chipre, os turcos muçulmanos e os gregos ortodoxos sobrevivem com seus Estados hostis. O Paquistão e a Índia travaram alguns conflitos grandiosos, mas os imigrantes muçulmanos lutam contra hindus, periodicamente, engajando-se em distúrbios de rua e outras violências. Se os participantes fundamentalistas islâmicos planejavam assassinatos de ocidentais proeminentes, os EUA planejavam a derrubada de regimes fundamentalistas islâmicos mais extremistas, contudo, essas práticas não se repetiram mais, pelo menos nas últimas eleições presidenciais iranianas, mesmo com os ‘Piquetes-Twitter’ da oposição neoliberal, apegada ao ocidentalismo americano-israelense, ao reeleito Mahmoud Ahmajinejad.



Osvaldo Aires Bade Comentários Bem Roubados na "Socialização" - Estou entre os 80 milhões  Me Adicione no Facebook 

Nenhum comentário:

Postar um comentário